Não faz muito tempo fui "impactado" pela expressão "caçadores de Deus". Como quase não gosto de ironias, logo fiquei perguntando: "tem espingarda pra caçar Deus?" Ou ainda: "quando abater um você pode trazer a pele pra eu fazer um tapete?"
Fico impressionado como alguns cristãos conseguem fazer uso de palavras fora de seu significado e colocam nessa palavras sentidos, que só fazem sentido pra esse grupo mesmo.
Mas, extravagâncias à parte, poucos percebem que esses termos são um ataque direto à doutrina da graça. Se pararmos pra pensar um pouco sobre a carta de Paulo aos Efésios, capítulo 2, vamos entender que é incabível a expressão "caçar Deus".
Logo no versículo 1 ele impõe uma condição ao homem sem Deus que é contundente: "vocês estavam mortos nos seus delitos e pecados". Pergunto se algum morto tem condição de caçar alguma coisa? Aliás, pergunto mesmo, se morto tem condição de fazer qualquer coisa boa que possa agradar a alguém?
Veja a letra da música "Leva-me Senhor": Sou Teu caçador / Estou seguindo os Teus rastros / Eu vou Te encontrar eu sei / Pois sinto o cheiro das Tuas águas / Quero Te conhecer / Eu quero ver a Tua face Desesperadamente...
Poderia fazer uma longa análise dessa letra, mas quero destacar alguma coisas, desespero é a condição de quem não tem esperança, entendo que essa letra fala de alguém sem esperança (nunca de um cristão). Como alguém sem esperança pode estar caçando Deus? Como alguém em angústia tal pode ser um caçador de Deus?
Nós não podemos nos deixar iludir por tais inconsistências no cristianismo. Efésios nos diz claramente: "fomos salvos pela graça". Quando nós estávamos mortos nos nossos delitos e pecado Deus é que nos "caçou". Ele não apenas nos encontrou, mas teve misericórdia de nós. Deus é aquele que busca as ovelhas perdidas, não o contrário.
Um outro ponto importante a destacar é o Deus "em fuga". Pense bem o real significado de "Estou seguindo os Teus rastros". O deus representado nessa expressão está se escondendo e me parece mais uma ameaça que uma expressão de adoração "eu vou te encontrar". Aqueles que foram encontrados por Deus não precisam seguir o cheiro e o rastro de Deus. Muito mais interessante é o ensinamento bíblico: "e juntamente com Ele nos ressuscitou e nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus". Quem está vivo e assentado junto com Cristo, não precisa sair à sua caça. E, também, um Deus que nos dá vida e nos leva ao seu Reino, não se esconde como presa.
Na verdade, essa expressão "caçadores de Deus" tem muito a ver com marketing e nada a ver com doutrina cristã. É muito mais vendável um cristianismo cheio de aventura e magia, parecido com os filmes que constróem o nosso imaginário do que aquele cristianismo que se assenta, ora, canta os hinos do tempo da sua bisavó, etc. Hoje, algo pra vender precisa de emoção e aventura. Igreja pra ser cheia não pode ter "mesmice", tem que ser "dinâmica", "moderna", "ousada" e "cheia de expressão nova".
Uma pena que alguns, para vender o evangelho se esquecem do Deus da graça e da misericórdia, que nos alcançou, quando estávamos mortos.
Louvo a Deus, pois mesmo eu estando morto, quando não podia caçar a ninguém, Ele me alcançou e nunca mais se escondeu de mim, ao contrário, me deu um lugar em sua casa.