sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Fique longe dessa Cabana




Recentemente, as vendas do livro A Cabana aproximaram-se de [sete] milhões de cópias. Já se fala em transformar o livro em filme. Mas, enquanto o romance quebra os recordes de vendas, ele também rompe a compreensão tradicional de Deus e da teologia cristã. E é aí que está o tropeço. Será que um trabalho de ficção cristã precisa ser doutrinariamente correto?

Quem é o autor? William P. Young [Paul], um homem que conheço há mais de uma década. Cerca de quatro anos atrás, Paul abraçou o "Universalismo Cristão" e vem defendendo essa visão em várias ocasiões. Embora freqüentemente rejeite o "universalismo geral", a idéia de que muitos caminhos levam a Deus, ele tem afirmado sua esperança de que todos serão reconciliados com Deus, seja deste lado da morte, ou após a morte. O Universalismo Cristão (também conhecido como a Reconciliação Universal) afirma que o amor é o atributo supremo de Deus, que supera todos os outros. Seu amor vai além da sepultura para salvar todos aqueles que recusaram a Cristo durante o tempo em que viveram. Conforme essa idéia, mesmo os anjos caídos, e o próprio Diabo, um dia se arrependerão, serão libertos do inferno e entrarão no céu. Não pode ser deixado no universo nenhum ser a quem o amor de Deus não venha a conquistar; daí as palavras: reconciliação universal.

Muitos têm apontado erros teológicos que acharam no livro. Eles encontram falhas na visão de Young sobre a revelação e sobre a Bíblia, sua apresentação de Deus, do Espírito Santo, da morte de Jesus e do significado da reconciliação, além da subversão de instituições que Deus ordenou, tais como o governo e a igreja local. Mas a linha comum que amarra todos esses erros é o Universalismo Cristão. Um estudo sobre a história da Reconciliação Universal, que remonta ao século III, mostra que todos esses desvios doutrinários, inclusive a oposição à igreja local, são características do Universalismo. Nos tempos modernos, ele tem enfraquecido a fé evangélica na Europa e na América. Juntou-se ao Unitarianismo para formarem a Igreja Unitariana-Universalista.

Ao comparar os credos do Universalismo com uma leitura cuidadosa de A Cabana, descobre-se quão profundamente ele está entranhado nesse livro. Eis aqui algumas evidências resumidas:

1) O credo universalista de 1899 afirmava que "existe um Deus cuja natureza é o amor". Young diz que Deus "não pode agir independentemente do amor" (p. 102),[1] e que Deus tem sempre o propósito de expressar Seu amor em tudo o que faz (p. 191).

2) Não existe punição eterna para o pecado. O credo de 1899 novamente afirma que Deus "finalmente restaurará toda a família humana à santidade e à alegria". Semelhantemente, Young nega que "Papai" (nome dado pelo personagem a Deus, o Pai) "derrama ira e lança as pessoas" no inferno. Deus não pune por causa do pecado; é a alegria dEle "curar o pecado" (p. 120). Papai "redime" o julgamento final (p. 127). Deus não "condenará a maioria a uma eternidade de tormento, distante de Sua presença e separada de Seu amor" (p. 162).

3) Há uma representação incompleta da enormidade do pecado e do mal. Satanás, como o grande enganador e instigador da tentação ao pecado, deixa de ser mencionado na discussão de Young sobre a queda (pp. 134-37).

4) Existe uma subjugação da justiça de Deus a seu amor - um princípio central ao Universalismo. O credo de 1878 afirma que o atributo da justiça de Deus "nasce do amor e é limitado pelo amor". Young afirma que Deus escolheu "o caminho da cruz onde a misericórdia triunfa sobre a justiça por causa do amor", e que esta maneira é melhor do que se Deus tivesse que exercer justiça (pp. 164-65).

5) Existe um erro grave na maneira como Young retrata a Trindade. Ele afirma que toda a Trindade encarnou como o Filho de Deus, e que a Trindade toda foi crucificada (p. 99). Ambos, Jesus e Papai (Deus) levam as marcas da crucificação em suas mãos (contrariamente a Isaías 53.4-10). O erro de Young leva ao modalismo, ou seja, que Deus é único e às vezes assume as diferentes modalidades de Pai, Filho e Espírito Santo, uma heresia condenada pela igreja primitiva. Young também faz de Deus uma deusa; além disso, ele quebra o Segundo Mandamento ao dar a Deus, o Pai, a imagem de uma pessoa.

6) A reconciliação é efetiva para todos sem necessidade de exercerem a fé. Papai afirma que ele está reconciliado com o mundo todo, não apenas com aqueles que crêem (p. 192). Os credos do Universalismo, tanto o de 1878 quanto o de 1899, nunca mencionaram a fé.

7) Não existe um julgamento futuro. Deus nunca imporá Sua vontade sobre as pessoas, mesmo em Sua capacidade de julgar, pois isso seria contrário ao amor (p. 145). Deus se submete aos humanos e os humanos se submetem a Deus em um "círculo de relacionamentos".

8) Todos são igualmente filhos de Deus e igualmente amados por ele (pp. 155-56). Numa futura revolução de "amor e bondade", todas as pessoas, por causa do amor, confessarão a Jesus como Senhor (p. 248).

9) A instituição da Igreja é rejeitada como sendo diabólica. Jesus afirma que Ele "nunca criou e nunca criará" instituições (p. 178). As igrejas evangélicas são um obstáculo ao universalismo.

10) Finalmente, a Bíblia não é levada em consideração nesse romance. É um livro sobre culpa e não sobre esperança, encorajamento e revelação.

Logo no início desta resenha, fiz uma pergunta: "Será que um trabalho de ficção precisa ser doutrinariamente correto?" Neste caso a resposta é sim, pois Young é deliberadamente teológico. A ficção serve à teologia, e não vice-versa. Outra pergunta é: "Os pontos positivos do romance não superam os pontos negativos?" Novamente, se alguém usar a impureza doutrinária para ensinar como ser restaurado a Deus, o resultado final é que a pessoa não é restaurada da maneira bíblica ao Deus da Bíblia. Finalmente, pode-se perguntar: "Esse livro não poderia lançar os fundamentos para a busca de um relacionamento crescente com Deus com base na Bíblia?" Certamente, isso é possível. Mas, tendo em vista os erros, o potencial para o descaminho é tão grande quanto o potencial para o crescimento. Young não apresenta nenhuma orientação com relação ao crescimento espiritual. Ele não leva em consideração nem a Bíblia, nem a igreja institucional com suas ordenanças. Se alguém encontrar um relacionamento mais profundo com Deus que reflita a fidelidade bíblica, será a despeito de A Cabana e não por causa dela.

The Berean Call

(As páginas citadas são as da edição original em inglês.)
Publicado em www.chamada.com.br

7 comentários:

Anônimo disse...

Até que enfim um comentário com começo meio e fim, fundamentado na Palavra e que não deixa dúvidas!

Louvo a Deus pela vida de vcs. que insistem, nestes tempos de muros cheios de crentes em cima, em denunciar com todas as letras as heresias que florescem no meio de nosso povo tão ansioso por soluções fáceis e tão avêsso a compromisso.
Continuem a serviço de Deus e de sua Verdade. Lídia

pastor walmir disse...

Caríssimos irmãos Bereanos,

Li, reli e até muitas lágriomas rolaram. O livro sem dúvida é fantástico. É um apelo muito forte sem dúvida, à alma oprimida, triste e desorientada. Como ficção é fantástico. Mas, os meios não justificam
os fins. Junta-se esta teologia triunfalista, com a teologia da prosperidade, e a bíblia desaparecerá. Tira-se o diabo de circulação, junta-se com a prosperidade e o Paraíso acontece.
São os amantes deste mundo. De fato; o Secularismo tira mais gente das igrejas, pois neste caso,
o diabo nem aparece, nem é adversário, parece um aliado. A verdade só liberta, quando conhecemos a verdade. Como auto ajuda, é fantástico. É só.

Rev. Walmir Alves

Unknown disse...

Concordo plenamente com os senhores. O cristão, o verdadeiro cristão, tem que filtrar muito o que lê. São tantas as publicações, que na maioria das vezes não compensa esse tipo de leitura. São tantas as porcarias que invadem nossas casas que chego a ficar preocupado até com a educação que nossas crianças recebem. O Senhor Jesus em sua oração sacerdotal de João 17:15-17, já previa e intercedia por todos os que cremos em Seu nome. Parabéns pelo artigo.

Marcus Bueno disse...

O Livro é bom! Muda perspectivas e tem verdades bíblicas sim. mas muito do Deus e da Trindade apresentadas são provenientes da corrente teológica do autor. Até aí, nada de mais. O que não se pode é criar teologia num livro que é uma ficção. Não vamos fazer como em tempos passados que se criavam teologias em livros de ficção como Deixados pra Tras e Este Mundo Tenebroso, que nem inspirados eram.

Examine TUDO e retenha o que é bom.

Tem coisa boa nessa cabana sim!

Mas conheça a Bíblia antes de se deslumbrar com este livro.

Anônimo disse...

É fantastico,é isso que iremos sempre ouvir,das pessoas que muitas vezes estao indefesas espiritualmente, é uma pena ver a mordenidade nao só tentando ganhar a igreja,mas gamhando mesmo com varias estrategias enganadoras.

salmos 91

Wanessa Pimentel disse...

Certas coisas me deixam em parafuso. Já tinha ouvido muitos comentários sobre o livro, mas nenhum que expusesse de forma tão clara, algo de que nem tinha o conhecimento.

Eu li o livro e a história é fascinante, a dor do pai que perde a filha com certeza mexe com as emoções. E o relacionamento simples e direto com Deus que é representado, é inspirador para que nós, em nosso dia-a-dia, tiremos a imagem de nossas mentes de que Deus só está para castigo, quando estamos na verdade, debaixo de Sua superabundante graça!

Como disse o Marcus, "examine tudo e retenha o que bom", e o examinar é isso aí que você fez, muito bem por sinal. Mas há de se considerar muitas coisas boas neste livro.


Grande Abraço,
Deus abençoe.

Italo Augusto disse...

Creio assiduamente que a justiça não possui duas faces; quem dirá então o Senhor?

O livro basicamente tenta reinventar o ideal do Deus Cristão como se fosse apenas um mero deleite ficcional, assim desrespeitando todos os conceitos primordiais que as Escrituras propõem.

Como entrenimento? Sinceramente nem para isso o livro serve, usa como base um sentimentalismo barato e colorido para convencer o leitor a se interessar pela obra. Uma obra completamente dispensável.

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