sábado, 8 de novembro de 2008

O dom de línguas

Ficar a balbuciar palavras ininteligíveis virou moda nas igrejas chamadas evangélicas e, de acordo com os criadores do costume e de seus adeptos, seria sinal de recebimento do Espírito Santo e de poder espiritual dos que se dedicam à prática.

Um costume que começou nos EUA, no início do século XX, se espalhou pelo mundo alcançando até mesmo seguimentos da Igreja Católica e hoje, quem não se entrega à prática é olhado como uma pessoa estranha, como um crente enfraquecido na fé, como alguém que não tem nenhum poder espiritual.

Acontece que esse costume não tem qualquer base bíblica e não manifesta, de forma alguma, algum tipo de comportamento cristão.

Como o cristianismo tem (ou pelo menos deveria ter) base neo-testamentária, busca-se em suas páginas algum texto que possa referendar o que surgiu em mentes embotadas pelo paganismo e pelo desejo de ëxercício de poder religioso sobre outras pessoas.

Os textos preferidos, isolados, são Atos 2:4 e 1 Coríntios 12.10, 28, que parecem fornecer base inquestionável para o comportamento pseudo-cristão.

Acontece que os textos, à luz dos seus contextos e analisados na língua original em que foram escritos, não dão base alguma para tais doutrinas e comportamentos dentro do cristianismo.

Se não, vejamos:

Em Atos 2:4 e 2:11 Lucas utilizou a expressão glossa no sentido de línguas de outras nações e não no sentido de línguas estranhas. O contexto mostra que houve um fenômeno de tradução, ou de proclamação, em línguas de outras nações, que judeus que eram de outras partes do mundo e que estavam em Jerusalém, estavam ouvindo a pregação dos apóstolos em línguas dos seus lugares de origem.

Em 1 Cor. 12:10,28 o apóstolo Paulo utilizou a expressão glossa se referindo a um dom do Espírito Santo que capacita a falar línguas de outras raças ou nações. A palavra que está traduzida por variedade está mal traduzida pois é genos que significa raças, tribos, nações, famílias. A tradução correta seria "a outros, línguas de outras nações...". Isto significa que não há Bíblia a referência a um dom do Espírito Santo concedendo a fala de línguas estranhas aos homens, mas o dom de falar em línguas de outras nações.

O que fazer diante da realidade de que a prática de balbuciar palavras ininteligíveis não faz parte da vida com Cristo? São várias as posições que precisam ser assumidas:

1. Os crentes em Cristo que nunca falaram línguas estranhas não se deixem influenciar nem pressionar de forma alguma pelos que adotaram o comportamento;

2. Os que depositam a sua fé na prática da glossolalia devem reexaminar a sua conversão e devem, sendo sinceros com Cristo, depositar realmente a fé somente na sua graça, no seu sacrifício, nas suas promessas de fortalecimento através do Espírito Santo que já está presente em todos quantos creem nele como Salvador e Senhor.

3. Devemos buscar com ardor oportunidades de pregar o evanglho de Jesus Cristo de maneira clara, bíblica, inteligível e, portanto, eficiente para a salvação de todo aquele que crer em Jesus Cristo.

Pr.Dinelcir de Souza Lima
IB Memorial de Bangu, Rio de Janeiro - RJ

5 comentários:

JamesCondera disse...

Graça e paz vos sejam multiplicadas.

Quando deparamos com textos como estes, refletimos o quanto o povo que se diz ser de Deus, precisa aprender sobre este mesmo Deus...

Estamos adicionando este rico espaço em lista exposta em nosso humilde blog.

Deus os abençoe ricamente.

Fraternalmente.
James.
www.jesusmaioramor.blogspot.com

Daniel disse...

Não precisa nem ir muito longe... 1 Corintios 13 fala que o dom de línguas, assim como o de profecia e revelação cessariam "quando vier o que é perfeito", ou seja, quando a revelação Bíblica tivesse sido concluída. Isso só já mata toda a conversinha fiada sobre dom de línguas e outros...

Davi disse...

Só uma pergunta, fiquei com dúvida quanto ao texto de 1 Coríntios 14:2 que diz:
Pois quem fala em uma língua não fala aos homens, mas a Deus. De fato, ninguém o entende; em espírito fala mistérios.

Baptista disse...

Basta ler o contexto.

Há dois textos usados algumas vezes para tentar provar que as línguas não eram linguagens reais. Um está em 1 Coríntios 14:2: "Pois quem fala em outra língua, não fala a homens, senão a Deus, visto que ninguém o entende, e em espírito fala mistérios". O argumento tirado freqüentemente deste versículo é que as línguas eram uma "linguagem de oração", especial para comunicação com Deus. De fato, neste trecho, Paulo está reprovando os Coríntios por seu uso errado das línguas. Desde que as línguas da Bíblia eram linguagens reais, elas seriam entendidas somente por aqueles que falassem aquela linguagem. Nas assembléias dos Coríntios, alguns homens estavam falando em linguagens que nenhum dos presentes conhecia, e sem o auxílio de um tradutor. Paulo mostra a conseqüência deste mau uso das línguas. Ninguém além de Deus as entendia e, portanto, não havia proveito (edificação) para a igreja. Não há proveito em falar uma língua que não é entendida pela igreja. Paulo disse claramente que todas as vozes tinham significado (versículo 10), mas que, se não conhecessem o significado da linguagem, ele estaria falando como um estrangeiro aos ouvintes, sem nenhum proveito (versículo 11). Paulo lança o princípio que tudo o que é feito na igreja tem que ser para edifcação. Portanto, as pessoas poderiam falar somente em linguagens conhecidas dos ouvintes, ou então, com um intérprete. Nesta passagem, Paulo não está recomendando que se fale em uma linguagem que só Deus poderia entender, mas está reprovando esta prática dos Coríntios.

Outro texto está em 1 Coríntios 13:1, onde Paulo diz: "Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o bronze que soa, ou como o címbalo que retine". Paulo fala semelhantemente nos versículos 2-3: "Ainda que eu tenha o dom de profetizar e conheça todos os mistérios e toda a ciência; ainda que eu tenha tamanha fé, a ponto de transportar montes, se não tiver amor, nada serei. E ainda que eu distribua todos os meus bens entre os pobres e ainda que entregue o meu próprio corpo para ser queimado, se não tiver amor, nada disso me aproveitará". Em cada versículo, Paulo está dizendo, em essência: Ainda que eu vá até ao mais extremo limite concebível ­ em línguas, em conhecimento, em fé, em serviço ­ sem amor estarei vazio e inútil. Paulo não estava sugerindo que ele havia conhecido todos os mistérios, que havia dado seu corpo para ser queimado ou que ele houvesse falado na língua dos anjos. Mas estava, isto sim, dizendo que, mesmo que ele houvesse, isso nada seria sem o amor.

Anônimo disse...

Com muita sinceridade de coração, eu creio que atualmente (mesmo sabendo que já aconteçe há muito tempo)seria muito proveitoso que as pessoas tivessem entendimento do bom Português como: coesão, coerência, tempo verbal, linguagem coloquial, termos, etc ... Se tornaria menos desastroso, e é claro ter uma liderança que não sirva a MAMMON. Assim como o nosso amigo Baptista salientou (BASTA LER O CONTEXTO).
Tá faltando o principal para acabar com essas interpretações pentencostais:AMAR A DEUS ACIMA DE TODAS AS COISAS E O PRÓXIMO como JESUS ENSINOU. Lamentável o papel das igrejas hoje.
Alexandre - alexandrexavier81@yahoo.com.br

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