terça-feira, 3 de março de 2009

A origem do pensamento pentecostal a respeito do batismo com o Espírito Santo

Com base nos registros bíblicos podemos afirmar que não há dúvidas de que o batismo do Espírito Santo foi um ato unilateral, que partiu do próprio Deus, independentemente de ações e atitudes pessoais de busca por parte dos Seus servos. Não cabe, então, às pessoas ficarem a determinar datas e formas para o que  chamam batismo no Espírito Santo porque a igreja de Cristo já foi batizada, em um tempo determinado por Deus, da forma também determinada por ele. O Espírito é de Deus e a tentativa de manipulá-lo é grave ofensa ao Senhor porque é tentativa de fazer dEle servo e manifestação do não reconhecimento do seu senhorio sobre todas as coisas, utilizando um acontecimento que partiu dEle e que foi operado por Ele como desculpa para uma tentativa de exercício de senhorio sobre quem é Senhor de todas as coisas.

Agora chegamos a um ponto crucial para o nosso entendimento: Se o batismo no Espírito Santo foi um fato único na história do Cristianismo; se foi um ato de Deus para a Igreja de Cristo como instituição, abrangendo o seu efeito a todas as igrejas de Cristo em todos os lugares e em todos os tempos; se o que vemos e ouvimos agora a respeito do assunto não tem qualquer base bíblica nem fez parte da história do cristianismo, de onde vem o costume de se procurar com ardor um fenômeno que é chamado de “batismo no Espírito Santo”, ou “batismo com o Espírito Santo”?

Há uma origem para tudo isso e não é divina. Olhando para o fundo histórico do movimento pentecostal observamos que é uma origem em comportamentos e pensamentos humanos. Ao que tudo indica, o metodismo de John Wesley (1703-91), vigário anglicano que ingressou em uma seita fundada por seu irmão Charles e que ficou conhecida em Oxford, Inglaterra, como “Associação dos Metodistas”, é o ancestral do pentecostalismo que se instalou entre igrejas norte-americanas no final do século XIX e início do século XX. Frederick Dale Bruner em sua obra Theology of the Holy Spirit - The Pentecostal Experience and the New Testament Witness, editada originalmente por William B. Eerdmans Publishing Company Grand Rapids, Michigan, U.S.A., 1970, traduzida para o português por Gordon Chown e editada em português sob o título Teologia do Espírito Santo, editada pela Sociedade Religiosa Edições Vida Nova, São Paulo, 1986, 2ª edição, comenta:

“Do ponto de vista da história da doutrina, parece que a partir da busca metodista ‘holiness’ por uma experiência instantânea de santificação, ou uma ‘segunda obra da graça’ depois da justificação, surgiu da centralização da aspiração do pentecostalismo no batismo no Espírito Santo, instantaneamente experimentado, subseqüente à conversão.” (p. 29)

John Wesley cria e ensinava que a remissão dos pecados e o recebimento de um coração novo eram duas realidades distintas em momentos diferentes na vida do cristão. Cria que o coração novo só era recebido em um momento de santificação através de uma experiência instantânea sensível (Wesley, A Plain  Account of Christian Perfection, Londres, The Epworth Press, 1952, p. 24), mas não chamava esta experiência de “batismo no Espírito Santo”. No entanto, o movimento pentecostal parece ter absorvido a idéia da experiência instantânea após a justificação e a substituiu da santificação para o que passaram a chamar de “batismo no Espírito Santo”.

O primeiro a chamar a experiência ensinada por John Wesley como santificação de “batismo no Espírito Santo” foi Charles Finney (1792-1876), reavivalista norte-americano de grande influência, autor de uma obra de Teologia Sistemática de grande utilização entre os pentecostais norte-americanos, em que ensinava uma experiência subseqüente à conversão que chamava de batismo no Espírito Santo. Frederick Dale Bruner faz citação em sua obra de um trecho das Memórias escritas por Finney, em que faz referência ao que considerava uma insuficiência do seu mentor presbiteriano, Rev. Gale:

“Havia outro defeito na educação administrada pelo irmão Gale, que considerei fundamental. Se já fora convertido, deixara de receber aquela unção divina do Espírito Santo que o tornaria um elemento poderoso no púlpito e na sociedade, para a conversão de almas. Não tinha chegado a receber o batismo no Espírito Santo, que é indispensável para o sucesso no ministério...”

Finney desenvolveu métodos deliberados e emotivos para levar os homens a uma crise espiritual e os justificava com pensamento seu, pessoal: “Deus tem considerado necessário fazer uso da emotividade que existe na raça humana para produzir excitações poderosas entre as pessoas antes de poder levá-las a obedecer”. Porém nem ele, nem John Wesley fizeram qualquer referência a uma experiência de glossolalia, de fala de línguas estranhas como sendo a marca do batismo no Espírito Santo. O fenômeno só ocorreu com notabilidade destacada, na cidade de Los Angeles, Califórnia, no ano de 1906,  em 9 de abril, em uma reunião na casa de alguns batistas que convidaram um pregador de Santidade chamado W. J. Seymour, que ali ensinou que a manifestação do batismo no Espírito Santo era falar línguas estranhas e provocou manifestações, conforme registra Frank Bartleman, um participante nos eventos. Ali estava o marco do início da crença que uma pessoa precisava passar por duas etapas de salvação: a primeira a justificação através da entrega da vida a Jesus Cristo como Senhor e a segunda através do batismo no Espírito Santo que seria marcado pela experiência mística da fala em línguas estranhas.

Para este autor ali começou um grande movimento herético, de pregação de um outro evangelho que não o de Jesus Cristo, que se espalhou pelo mundo e que tem prejudicado grandemente a pregação do evangelho autêntico, da salvação por um ato único de entrega de vida a Jesus Cristo como único Salvador, pois atribuiu valor salvífico também a um fenômeno que não encontra respaldo na Bíblia, que foi criado e desenvolvido por homens que desprezaram os ensinamentos bíblicos, e que depende de esforços humanos para serem supostamente alcançados. Uma crença herética, que leva igrejas à apostasia e que faz com que pessoas que um dia creram em Jesus como Salvador e Senhor de suas vidas, fiquem a buscar uma manifestação extática em suas vidas, culminada em um fenômeno de glossolalia para terem a certeza de que foram “batizadas com o Espírito Santo”, e assim possam sentir alguma tranqüilidade espiritual, ou uma edificação espiritual, ou uma convicção de que são salvos. Mas, salvos por quem? Pelo Espírito Santo? Ou por Jesus Cristo a quem supostamente entregaram suas vidas?

Creio que crentes sinceros devem revisar seus procedimentos, reconhecer que não há base bíblica, não há base nos ensinamentos de Jesus para tal prática religiosa e devem com gratidão pela salvação recebida somente pela graça de Jesus Cristo, entregarem-se à obra de testemunho do nome de, mostrando ao mundo que Ele pode salvar e regenerar a todos quantos crerem no Seu nome com o Filho de Deus, que veio buscar e salvar o homem condenado pelo pecado.

(Extraído do Livro O Espírito Santo à Luz das Escrituras, de autoria do Pastor Dinelcir de Souza Lima, Editora Batista Brasileira, Rio de Janeiro, 2008, páginas 39-41)

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