Adjetivei-os na condição de atuais porque, repito, desde sempre a religião romanista criou e prestigiou seus fieis, suas freiras e seus clérigos carismáticos. Se o indivíduo não foi carismático, isto é, se não possuiu algum "dom" prodigioso, impossível ser canonizado "santo". Uma das mais rigorosas exigências, a principal, do processo canonizatório é a da prova ou comprovação das virtudes heróicas do candidato feita através de milagres. Cada estágio da canonização: o da introdução do processo quando os postulantes do concorrente são obrigados a fundamentarem sua petição em três prodígios, o da declaração de sua bem-aventurança e o da canonização propriamente dita, requer a demonstração de pelo menos três portentos de "veracidade comprovada".
O Concilio Vaticano II marcou uma fase de transição do catolicismo romano. Por sentir a urgente necessidade de se adaptar as novas condições econômico-político-sociais e religiosas do mundo, a hierarquia clerical alvitrou conformar se a elas.
De resto, e a velha tática do clero. Toda vez que é chamado à encruzilhada histórica de adaptar-se ou morrer, prefere, para não morrer, acomodar-se as novas conjunturas. Já que nunca pode transformar as estruturas sociais, a elas se encaixa.
Este foi o principal objetivo do Concílio Ecumênico Vaticano II, que, na artimanha de adaptação, se abriu em leque em atuações diversificadas. No terreno sócio-político desfraldou bandeiras socialistas e na área religiosa arreganhou aberturas ecumenistas.
O ecumenismo examinei-o no livro de minha lavra O ECUMENISMO: SEUS OBJETIVOS E SEUS MÉTODOS, intenta também o retorno à comunhão vaticana das seitas dela dissidentes como os luteranos e os anglicanos em todas as suas ramificações.
Essas seitas católicas afastadas da barca pontifícia, vulgarmente conhecidas como protestantes, aceitaram o assédio ecumenista do clero romano e na mesa comum do "dialogo" seus representantes tem se sentado no afã de aparar as arestas responsáveis pelo seu distanciamento da comunidade vaticana.
João Paulo II, repito pela milésima vez, é o sumo pontífice que o romanismo atual precisava. Veio na hora exata. Sua exuberante atuação e firmada no programa consciente de capitalizar o máximo em todos os espaços (políticos, sociais, financeiros e religiosos). Usufrutuário de prestígio multissecular do cargo de soberano pontífice da mais rica e poderosa religião do mundo, em benefício dela própria, João Paulo II se empenha ao extremo.
Sua próxima viagem à Inglaterra, prevista para agosto deste ano de 1982, visa a respaldar as últimas decisões dos encontros ecumênicos do clero das duas seitas: a vaticana e a anglicana. Com certeza o seu pontificado se assinalara na história do romanismo pela consumação do regresso dos anglicanos e parte dos luteranos ao seio da "santa madre".
Dado o seu desenvolvimento no meio das massas populares o pentecostalismo chamou a atenção da hierarquia vaticanista.
Se a manobra do "dialogo" ecumenistizante vem dando certo com os anglicanos, luteranos e ortodoxos, pelo menos de inicio era inviável e improdutiva com os pentecostalistas. Distinguem-se estes pelo exercício dos "dons espirituais" ou "carismáticos" incentivados na exaltação das emoções.
Destarte a hierarquia resolveu penetrar nas áreas pentecostalistas valendo-se de suas próprias praticas. Praticas estas, outrossim, próprias da atuação do clero romanista no decurso de sua existência.
A perspicácia clerical verificou com acerco ser a nação norte-americana o lugar mais conveniente para o início de sua atual investida carismática.
A hierarquia vaticana é genial em seus planos e na execução deles. Começa por aí: para cada empreendimento específico tem o indivíduo específico adrede preparado.
Nesta empresa o indivíduo talhado foi o sacerdote jesuíta Edward O'Connor, da Universidade Católica de Notre Dame. Mentor espiritual de Steve Clark e Ralph Martin Keiter, considerando-os adequados instrumentos na sua investida, resolveu usá-los na explosão carismática vaticana tendente a ecumenistizar os pentecostalistas. Colocou-lhes nas mãos, em princípios de 1966, os dois livros: A CRUZ E O PUNHAL, de David Wilkerson, e ELES FALARAM EM OUTRAS LÍNGUAS, de John Sherril. Lendo-os, segundo as previsões de O'Connor, assimilaram sua orientação e passaram a freqüentar "reuniões de poder" dos pentecostalistas.
Clark e Keifer, dois leigos católicos engajados nos Cursilhos de Cristandade, o movimento desencadeado pelo clero após o Concilio Vaticano II com o propósito de dinamizar as praticas religiosas entre os fieis católicos em função do ecumenismo.
Comprovaram ambos a sua acertada escolha pelo jesuíta O'Connor pois sentiam as mesmas experiências pentecostalistas influenciados que eram por aquelas "reuniões de poder".
O seu preparo excedeu as mais otimistas expectativas de seu mentor espiritual. Devidamente preparados, portanto, compareceram Keifere Clark, no Outono de 1966, à Convenção Nacional dos Cursilhos de Cristandade, celebrada em dependências da Universidade Católica Duquesne do Espírito Santo, na cidade de Pittsburg, Pennsylvania. Se os relatórios das atividades ecumenistas revelavam progresso em certos meios protestantes, em geral, também demonstravam o fracasso delas nos círculos pentecostalistas.
Steve Clark e Ralph Keifer tiveram então a oportunidade de dar seu testemunho de atuação positiva nesses ambientes até então refratários ao "diálogo" ecumenista. Falaram sobre aqueles dois livros pentecostalistas e espalharam exemplares deles a muitos companheiros cursilhistas.
Terminada Convenção dos Cursilhos, sucedeu um espontâneo (?) encontro de pessoas despertadas pela palavra de Clark e Keifer e interessadas nas novas experiências.
O ambiente daquela colina batida por constante brisa forte do Outono facilitou o cenário do pentecostal "vento impetuoso". As reuniões, por seu turno, criaram o clima psicológico favorável à ocorrência do chamado batismo no Espírito Santo dos moldes pentecostalistas.
Com efeito, as manifestações carismáticas não se fizeram retardar. E no ambiente de extrema excitação nervosa predominaram as línguas "estranhas".
Deu-se o inicio do novo surto pentecostalista nos horizontes romanistas.
Aníbal Pereira dos Reis (ex-padre católico romano).
Fonte: Católicos Carismáticos e Pentecostais Católicos,
Edições Caminho de Damasco, 2ª edição, São Paulo, 1992.
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