sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Não Devemos Julgar?

A cada dia fico mais indignado com as heresias que estão sendo pregadas em muitas igrejas por aí e com tantas distorções Bíblicas em nosso meio. O Evangelho genuíno está sendo deixado de lado e sendo trocado por uma "teologia popular" voltada ao misticismo, aos modismos, as falsificações bíblicas e fetiches populares. Apóstolos, pai-póstolos, gurus gospel tem surgido por aí trazendo um "outro evangelho". A Palavra de Deus em sua essência é trocada por modismos, por hierarquias eclesiásticas, por dinheiro e por interesses particulares destes "super crentes". São tantos "shofás proféticos" que não agüento mais tanta barulheira. É tanto "mantra gospel" e hinos repletos de heresias e erros de português que meus ouvidos já estão estourando; é tanta coreografia que meu senso de racionalidade clama por socorro! Quebra de maldições hereditárias onde o crente nunca se converte de verdade, sessões de descarrego, sabonetes de arruda, rosa ungida, sal grosso... é tanto "copo d'água consagrado" que dá até vontade de ir ao banheiro. Unções especiais, urros, gritos, histerias, regressões, encontros tremendos, pastores poderosos, super apóstolos, e até horóscopos e numerologia gospel - onde alguns crentes mudam ou retiram/acrescentam letras ao seu nome, acreditando que o mesmo exerça alguma influência (negativa ou positiva) em suas vidas.


Diante de tudo isso, muitos cristãos infelizmente tem se calado para tanta heresia, pois existe um conceito errado de que não devemos julgar nada, que não é o nosso papel estar julgando o que ocorre com estas pessoas, principalmente se vamos falar de algum "líder" que esteja em um comportamento que vai contra as Escrituras. Resumindo, querem nos calar mesmo! Já não bastasse a perseguição contra os cristãos que hoje em dia ocorre em muitos lugares no mundo, inclusive no Brasil, ainda temos que agüentar a distorção bíblica de que jamais deveremos abrir a boca contra o pastor x, apóstolo y, pois são os "ungidos de Deus". Nestes ninguém fala, até Davi foi repreendido pelo profeta Natan, mas estes líderes contemporâneos não podem ser repreendidos por algum erro ou heresia. É proibido pensar, é proibido julgar! Muitas mentes estão sendo cauterizadas por esta "nova doutrina".


Existem algumas passagens Bíblicas que muitos cristãos têm interpretado erroneamente a respeito de julgamento. Meu compromisso neste artigo é desmistificar e esclarecer o Povo de Deus de que não devemos nos calar jamais, pelo contrário, devemos por obrigação exortar e lutar pelo Evangelho genuíno de Cristo, afinal, quem ama luta pela verdade, pois "O amor não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade". (1 Co 13:6).


A primeira passagem Bíblica a ser analisada é talvez a mais usada para afirmar que nunca devemos julgar ninguém que esteja praticando e difundindo um erro ou algo que vai contra as Escrituras. Esta passagem é Mateus 7:1: "Não julgueis, para que não sejais julgados." A grande questão aqui é se Jesus proíbe qualquer julgamento ou somente certo tipo de julgamento. O vs. 1 por si mesmo não nos dá uma resposta para esta pergunta. Por isso temos que aplicar uma regra fundamental de hermenêutica para poder interpretar a Bíblia. Analisar sempre o contexto da passagem citada para poder saber de que se trata a mesma, pois sabemos que texto fora de contexto é um pré-texto para formar até mesmo uma heresia. Aqueles que citam esta passagem isoladamente para dizer que não devemos julgar ninguém e sermos tolerantes estão gravemente equivocados e mal intencionados.


Para sabermos de que tipo de Julgamento Jesus proibiu nesta passagem vamos analisar o contexto: "Pois, com o critério com que julgardes, sereis julgados; e, com a medida com que tiverdes medido, vos medirão também. Por que vês tu o argueiro no olho de teu irmão, porém não reparas na trave que está no teu próprio? Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o argueiro do teu olho, quando tens a trave no teu? Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho e, então, verás claramente para tirar o argueiro do olho de teu irmão" Mt 7:2-5.


Analisando o contexto podemos ver claramente que Jesus proíbe especificamente o "julgamento hipócrita". Jesus diz aos judeus no vs. 1 que eles não devem julgar. No vs. 2, ele dá a razão pela qual eles não devem julgar: o padrão que eles usam para julgar os outros será o mesmo padrão que os outros usarão para julgá-los. Eles não devem ignorar seus próprios pecados, enquanto estão condenando os mesmos pecados nos outros. Fazer isto é julgar com um "padrão Duplo", ou seja, julgar hipocritamente.


Não é hipócrita condenar o irmão por uma pequena falta, ou mesmo tentar ajudá-lo a sobrepujá-la, quando você mesmo é culpado de uma falta maior? Esta é a grande questão que Jesus estava colocando diante do povo nesta passagem.


Note que o pecado dos dois pecadores é o mesmo em dois aspectos. Primeiro, é o mesmo em natureza: em ambos os casos um pedaço de madeira estava no olho da pessoa. Segundo, ambos estão atualmente pecando: o pedaço de madeira estava no olho deles naquele momento. A diferença entre as suas faltas é somente o tamanho: um pedaço é pequeno, e o outro é grande. É hipocrisia alguém cujo pecado é maior condenar alguém cujo pecado é menor, sendo em ambos os casos o mesmo tipo de pecado (vs. 5). Em outras palavras, uma mulher que está abortando um feto de oito meses não está na posição de repreender um homem que mata um caixa de banco, e o adultero não está na posição de criticar infidelidades no casamento de um outro casal!


Mateus 7:1, de acordo com o seu contexto, não proíbe todo julgamento e intolerância, mas somente o julgamento e intolerância hipócrita. De fato, ele requer de nós que, após nos arrependermos dos nossos próprios pecados, condenemos o pecado do irmão como pecado, e ajudemo-lo a se voltar dele. "tira primeiro a trave do teu olho", diz Jesus, "e então, verás claramente para tirar o argueiro do olho de teu irmão". Jesus ordena uma intolerância genuína, e não hipócrita, do pecado que o irmão comete.


Outra passagem bastante utilizada é João 8:7-11. O contexto é a história da mulher que foi pega no próprio ato de adultério e trazida a Jesus pelos escribas e fariseus. No vs. 7, Jesus diz aos escribas e fariseus: "Aquele que dentre vós estiver sem pecado seja o primeiro que lhe atire a pedra". No vs. 11 ele fala para a mulher: "Nem eu tampouco te condeno; vai e não peques mais". Os defensores da tolerância usam estas palavras para argumentar que ninguém deveria condenar outras pessoas, pois não somos melhores do que elas.


Embora explicaremos o que significa julgar em maior detalhe mais tarde, estendamos por ora que, quando alguém julga, ela dá um veredicto: Culpado ou inocente. Após ser julgada, a pessoa é sentenciada: A pessoa culpada é condenada (sentenciada ao castigo) e a inocente é liberta. O ponto é que julgar e condenar são duas coisas distintas, relacionadas, mas não idênticas.


Tendo isso em mente, note que Jesus de fato julga esta mulher, mas não a condena. Ao dizer-lhe "vai e não peques mais", Jesus indica que ela tinha pecado. Em si mesma, a acusação dos fariseus estava correta, e Jesus julgou o pecado como sendo pecado. Isto mostra intolerância pela ação pecaminosa! Seguindo o exemplo de Jesus, devemos dizer aos pecadores que mostrem arrependimento genuíno não mais cometendo pecado.


Embora Jesus tenha julgado a mulher, ele não a condenou. Ela pode ir embora: ela não foi executada. O evangelho para o pecador penitente é: "Portanto, agora, nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus." ­ Rm 8:1. Esta é a mensagem que Jesus dá à mulher; o próprio Jesus foi condenado por ela! Ele suportou o castigo que lhe era devido, para que ela pudesse ser livre!


A resposta de Jesus aos fariseus expõe o julgamento hipócrita deles no assunto (o propósito primário deles, certamente, não tinha nada a ver com a mulher; era pegar Jesus em Suas próprias Palavras. Todavia, Jesus sabia que os fariseus se orgulhavam da justiça própria deles, e respondeu à luz deste fato). Os fariseus, Jesus recorda-os, também eram culpados de pecado, e especificamente de adultério, quer físico ou no coração. Porque também não eram livres de pecado, também eram dignos de morte como ela. Assim, ao desejar saber que julgamento ela deveria ter recebido, eles revelaram sua própria hipocrisia e motivação errônea.


Esta passagem nos ensina como tratar com outros que pecam. O vs. 11 nos ensina que devemos desejar o arrependimento do pecador; o vs. 7 nos ensina que não devemos fazer isso hipocritamente, nem com motivos errôneos ou de uma maneira imprópria. Contudo, a passagem não quer dizer que nunca devemos considerar as pessoas responsáveis por seus pecados (isto é, julgar o pecado como sendo pecado).


Outra passagem é Marcos 9.38-40: "E João lhe respondeu, dizendo: Mestre, vimos um que em teu nome expulsava demônios, o qual não nos segue; e nós lho proibimos, porque não nos segue. Jesus, porém, disse: Não lho proibais; porque ninguém há que faça milagre em meu nome e possa logo falar mal de mim. Porque quem não é contra nós, é por nós".


Este texto tem sido muito usado - por aqueles que não têm conhecimento bíblico e querem justificar as heresias - para ensinar que não importa a doutrina que alguém prega, desde que fale de Jesus. Um relativismo espiritual, onde um espírito ecumênico e eclético é transportado ao texto bíblico. Dizem: "Não importa se ele está pregando certo ou errado, mas se está falando de Jesus, devemos considerá-lo como irmão". Este texto nos manda abrir os olhos para ver o apoio à causa de Cristo e não um texto que manda fechá-los ao desvio da verdade. Vejamos: a) Jesus conhecia o tal homem; b) o homem não estava praticando nenhuma heresia e nem ensinando outro evangelho; c) o homem estava agindo conforme os mandamentos e ensinamentos de Cristo.


Os discípulos estavam enciumados porque não conseguiram, pela falta de uma maior santificação (jejum e oração), expulsar o demônio de um garotinho - vs. 14-29 - e por isso não se conformavam com o êxito de um outro que "não fazia parte" do seu grupo. A resposta de Jesus foi para mostrar que não há hierarquia eclesiástica entre os Seus servos e tanto eles - os discípulos - como os leigos - o tal homem - podem e devem fazer o trabalho de Deus. Jesus não ensinou que qualquer um que esteja fazendo algo em "Seu Nome" deverá ser considerado um de nós. Se alguma pessoa ou igreja está praticando ou ensinando a doutrina Bíblica, é por nós; porém, se praticam e ensinam heresias e doutrinas antibíblicas, é contra nós e a resposta de Cristo é enfática: Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos muitas maravilhas? E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade - Mt 7.22-23.


Agora gostaria de colocar as passagens Bíblicas que nos ordenam julgar


Outras passagens na Escritura nos ordenam positivamente a julgar. Uma passagem que nos diz isso claramente é João 7:24. Ela se encontra no contexto da discussão de Jesus com os judeus que questionaram Sua doutrina, e tinham-no acusado de ter um diabo (Jo 7:20) e de quebrar o dia do Sábado curando um homem (Jo 5:1-16). A eles Jesus diz: "Não julgueis segundo a aparência, e sim pela reta justiça". Ao dizer "não julgueis", Jesus não pretende proibir o julgamento como tal, mas proibir certo tipo de julgamento, como a parte positiva deste vs. deixa claro. Podemos julgar, mas quando o fizermos, devemos julgar justamente.


O julgamento exterior e superficial - isto é, julgar simplesmente sobre base do que parece ser o caso, sem conhecer todos os fatos - é um julgamento imprudente, injusto e sem discernimento, que é contrário ao nono mandamento da lei de Deus. Deus odeia tal julgamento. O Julgamento justo é feito usando a lei de Deus como o padrão pelo qual discernimos se o que parece ser o caso é realmente o caso.


Outra passagem é 1 Co 5, um capítulo importante com respeito ao dever positivo de julgar. Primeiro, no vs. 3 Paulo declara, sob a inspiração do Espírito, que ele tinha julgado um membro da igreja em Corinto que estava vivendo no pecado da fornicação. Seu julgamento foi "seja entregue [tal pessoa] a Satanás para destruição da carne, para que o espírito seja salvo no Dia do Senhor Jesus". Este é um julgamento ousado da sua parte. Segundo, nos vv. 9-13, Paulo lembra aos santos do seu dever de julgar as pessoas que estão dentro da igreja, quanto a se eles estão obedecendo ou não a lei de Deus. Aqueles que alegam ser cristãos e são membros da igreja, mas que são julgados como sendo impenitentemente desobedientes a qualquer mandamento da lei de Deus (vs. 9-10), devem ser excluídos da comunhão da Igreja. Paulo, sob a inspiração do Espírito, diz para a igreja não tolerar pecadores impenitentes.


Outros textos também indicam que é nossa responsabilidade julgar. Jesus pergunta às pessoas em Lucas 12:57: "E por que não julgais também por vós mesmos o que é justo?". Jesus repreende os escribas e fariseus em Mateus 23:23 e Lucas 11:23, dizendo: "Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois que dais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho e desprezais o mais importante da lei, o juízo, a misericórdia e a fé; deveis, porém fazer essas coisas e não omitir aquelas". Era o dever deles, de acordo com a lei, julgar - mas eles tinham falhado neste dever. Paulo orou para que o amor do filipenses "aumentasse mais e mais em pleno conhecimento e toda a percepção". (Fl 1:9). Ele diz aos Corintos: "Falo como a criteriosos; julgai vós mesmos o que digo". (1 Co 1:15).


Os cristãos são solicitados a examinar tudo e reter o bem (1 Ts 5:21). Eles também são obrigados a provar se os espíritos são de Deus: "Irmãos, não deis crédito a qualquer espírito; antes, provai os espíritos se procedem de Deus, porque muitos falsos profetas tem saído pelo mundo afora" (1 Jo 4:1). Mesmo nas reuniões cristãs eles devem "julgar" o que ouvem: "Tratando-se de profetas, falem apenas dois ou três, e os outros julguem." (1 Co 14:29).


Os crentes de Corinto receberam ordens para julgar imediatamente a imoralidade existente entre os seus membros (1 Co 5:1-8). Mesmo o estrangeiro de passagem não deve ser hospedado se for verificado que não se trata de uma pessoa alicerçada na verdadeira fé (2Jo 10,11). E um anátema (maldição) deve ser proferido contra aqueles que apresentarem um tipo diferente de evangelho (Gl 1:9), tais como àqueles que trazem heresias para dentro de nossas igrejas (sugiro a estes que leiam Dt 13).


Estudando os contextos descobrimos que o que é proibido não é realmente o julgamento em si, mas sim um tipo errôneo de julgamento. Deus odeia o julgamento hipócrita! Mas Deus ama o julgamento justo da parte dos seus filhos. Que Ele ama isso é claro a partir do fato de ordenar que o pratiquemos, e de ter dado Sua lei como um padrão pelo qual podemos cumprir tal mandamento.


Portanto, é dever de todo cristão Julgar! Mas este "julgar" não significa fazer injúrias, calúnias ou fofocas sobre a pessoa que está no erro. Se vemos que alguém está se desviando do Evangelho, ou pregando e trazendo heresias para dentro de nossa igreja, o nosso objetivo principal deve ser alertar, repreender, exortar e conduzir o pecador ao arrependimento e a restauração. Caso a disciplina seja indispensável, ela deve ser feita com seriedade, amor e tristeza, sempre objetivando o arrependimento, e não a condenação eterna do pecador. E com muito temor também, afinal, não somos pessoas perfeitas e ninguém deve ser julgado ou condenado injustamente. É nosso dever também alertar ao Corpo de Cristo sobre determinadas heresias que porventura continuam a ser pregadas e os autores das mesmas não querem dar ouvidos. (leia Gl 6.1, 2Tm 4.2-3 e 1Co 6.1-5)


Pensem crendo e creiam pensando!!!


(compilado)

2 comentários:

Unknown disse...

Parabens pela matéria. Tomei a liberdade de republica-la em meu blog. Abraços.

Evangelista disse...

Ola venho dizer que tem um versiculo errado, no 5º paragrafo(de baixo pra cima), a ultima linha, esta escrito: "Falo como a criteriosos; julgai vós mesmos o que digo". (1 Co 1:15). isso está em
1 Co 10:15


a paz

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