sábado, 14 de março de 2009

A "divina revelação do inferno"

Uma enxurrada de "tristestemunhos" de pessoas que supostamente estiveram no céu ou no inferno tem proliferado no meio dos evangélicos. São relatos extremamente sensacionalistas e repletos de aberrações teológicas, onde pessoas afirmam terem visto as coisas mais bizarras possíveis, tais como: armários com gavetas contendo pontas de cabelo, calças compridas e brincos; e demônios espetando com tridentes as pessoas (quase sempre irmãs que usavam calça comprida ou cortaram os cabelos ou irmãos que assistem televisão), caminhos e corredores diferentes no inferno, etc... Alguns até dizem terem visto o próprio diabo torturando as pessoas. Muitas igrejas convidam estes "irmãos santos" e "experientes" para testemunhar em suas igrejas [nestes dias, as igrejas lotam de curiosos para ouvirem os tais "testemunhos"] e livros e apostilas são feitos e vendidos com estas mentiras e baboseira, e é um destes livros - certamente o mais famoso deles - que iremos analisar aqui.

O livro "a divina revelação do inferno" foi publicado originalmente em inglês com o título: "a divine revelation of hell", em 1993, nos Estados Unidos. A autora, Mary Kathryn Baxter, é "ministra" [as heresias já começam aqui: mulheres exercendo o oficio pastoral, o que é antibíblico] da Igreja Nacional de Deus, em Washington, EUA. Nasceu em Chattanooga, Tennessee, EUA. Segundo ela mesma relata, começou a ter "visões" de "deus" na década de 60, em Michigan; mas foi em 1976, que "jesus" teria aparecido para ela, na forma humana, em "sonhos", "visões" e "revelações", durante quarenta noites, e mandou-a transmitir as profundezas, degradações e tormentos das almas perdidas no inferno (pp. 183, 184).

Entre as pessoas que indicam e apoiam o referido livro, encontra-se a Sra. Marilyn Hickey, que num de seus livros ensina ter Noé, sob o efeito da embriaguez, praticado atos homossexuais com seu neto Canaã, além de dizer que o homem possui a natureza de Deus, tornando-se participante de "todos os seus atributos" [Hickey, Marilyn. Quebre a cadeia da maldição hereditária. Rio de Janeiro: Adhonep, 1988, pp. 30-32, 98]. Percebe-se, pois, que a insensatez acompanha não apenas a obra indicada, mas também quem a indicou.

A visita ao inferno da Sra Baxter

O "inferno" de Baxter é sui generis. Nada há igual. Ela usa e abusa de seu "talento artístico" para criar baboseiras "espirituais". Sua imaginação é fertilíssima.

Baxter relata sua "visita" ao inferno nos seguintes termos: "...'jesus' veio a mim em 1976 (...). "jesus" levou-me ao inferno por um período de 40 dias. (...) No mesmo momento, minha alma foi retirada do meu corpo. Saí com "jesus" do meu quarto em direção ao céu. (...) Meu corpo permanecia na cama, enquanto o meu espírito ia com "jesus" através do telhado da casa. (...) Depois, começamos a subir cada vez mais e eu já podia ver a Terra embaixo. Saindo dela, de vários pontos, haviam tubos girando em direção a um ponto central, indo e vindo. Eles se moviam como gigantes, continuamente e envolviam a Terra toda. (...) "São os portões do inferno" (pp. 11, 16-18).

Ela retrata o inferno como se fora um corpo humano. O livro tem alguns capítulos "interessantes", como, por exemplo: A perna esquerda do inferno (02), A perna direita do inferno (03), O ventre do inferno (07), O coração do inferno (10), O braço direito do inferno (13), O braço esquerdo do inferno (14), As mandíbulas do inferno (19) etc. Relata Baxter (aparentemente citando as palavras de "jesus"): "O inferno tem a forma de um corpo (semelhante à forma humana) deitado no centro da Terra. Ele tem a forma de um corpo humano - grande e com muitos compartimentos cheios de tormentos (...). O corpo está deitado de costas, com os braços e as pernas estendidas para fora" (pp. 31, 32, 52, 53).

Ao visitar o "coração" do inferno (capítulo 10), juntamente com "jesus", ele a abandonou, entregando-a aos demônios. Ela conta que sofreu tormentos, foi aprisionada, ajoelhou-se diante de satã. Diz Baxter: "espíritos na forma de morcegos me mordiam por toda parte" (p. 90). Ao indagar de "jesus" a razão desse incidente, a resposta foi: "Minha filha, o inferno é real. Mas você jamais poderia ter certeza até que experimentasse por si mesma. Agora você sabe da verdade e o que é estar perdido para sempre lá. Você poderá relatar para os outros a sua experiência, sem sentir nenhuma dúvida" (p. 92). O "jesus" que conduziu a Sra. Baxter ao inferno não era o JESUS da Bíblia (II Coríntios 11: 4).

O "jesus" da Sra. Baxter não se deu por satisfeito com o que ela conheceu e, após essa experiência traumática, enviou-a mais uma vez para os tormentos infernais, desta vez às mandíbulas do inferno (capítulo 20). Depois de entrar em colapso, ela declarou que queria "estar bem longe - longe de "jesus", da minha família e de qualquer pessoa" (p. 92). Certamente que o JESUS dos Evangelhos não submeteria nenhum de seus "irmãos" a horrendas atrocidades, como se Ele fosse um carrasco nazista.

Algumas esquisitices que a Sra. Baxter diz ter visto no "inferno"

Ratos e serpentes (p. 53). Como foram parar ali?;

Uma alma - com coração e sangue - dentro de um caixão (p. 57). De que era feito esse caixão, só Baxter sabe;

Uma mulher presa numa cela, cujas paredes eram de "barro" e a porta de "um metal escuro com barras e uma fechadura", e sentada numa "cadeira de balanço, balançando e chorando copiosamente" (p. 70). Pelo que parece, o inferno anda contratando pedreiro, ferreiro e carpinteiro.

Satanás despachando com um grupo de mulheres, instruindo-as para enganar a muitas pessoas. De repente, "uma estante alta foi trazida para perto de Satanás e lá havia muitos papéis. Ele pegou alguns e começou a ler para as mulheres" (p. 63). De que eram feitos aqueles papéis que não queimavam nas profundezas ardentes do inferno de Baxter?

Aberrações Teológicas

a) Exaltação ao demônio

O livro "a divina revelação do inferno", é um verdadeiro parque de diversões para os demônios, lá os homens penam no fogo e os demônios só curtem; uns espetam, outros torturam, outro tem uns 4 metros e fica brincando de lançamento de disco (literalmente). Um disco com muito enxofre e lago de fogo, onde são colocadas várias pessoas e o demônio fica jogando este disco de um lado para outro... (olimpíadas infernais?!?).

No inferno de Baxter, Satanás jamais sofre; ao contrário, ele conta com um "centro de divertimento" (p. 80), onde ele e seus demônios deleitam-se com a desgraça alheia (p. 82). O apóstolo João, porém, diz que Satanás, ao invés de ter um "centro de divertimento", será atormentado pelos séculos dos séculos (Apocalipse 20:10).

b) Contradições

O caráter contraditório das declarações por si só já desqualifica a "revelação" de Baxter. Por exemplo: na p. 16 encontramos a suposta declaração de "jesus" para ela: "Minha filha, levarei você até o inferno (...). Quero que escreva um livro e conte todas as coisas que vou revelar a você". Desobedecendo à ordem de "jesus", porém, ela comenta na p. 20: "Algumas coisas, por serem horríveis demais, não consegui passar para o papel". Ora, por mais que a mensagem a ser transmitida fosse dura, os profetas de Deus declaravam o que Ele ordenava, independentemente do que sentiam a esse respeito; tal foi o caso de Jonas, Jeremias, Oséias e outros. A Sra. Baxter mostrou claramente não possuir características próprias de um profeta de Deus. Para terminar o festival de contradições, diz: "Como obreira de Deus, submeti-me ao comando de 'nosso senhor jesus cristo' e registrei fervorosamente as coisas que me foram mostradas e reveladas por Ele" (p. 181). Baxter registrou ou não?!?

c) Negando a Trindade

Baxter ensina no livro um conceito errôneo sobre a Trindade. Ela afirma ouvir de Deus, o Pai, o seguinte: "O Pai, o Filho e o Espírito Santo são uma única pessoa" (p. 158). Essa heresia, que não faz distinção entre as "pessoas" da Trindade, chama-se patripassionismo (ou modalismo, também conhecida como sabelianismo). Para os patripassianos, foi o próprio Pai que assumiu a natureza humana, sofreu, morreu e ressuscitou. Diziam que a expressão "Filho" refere-se à carne de Jesus (= natureza humana), e que "Pai" é o elemento divino unido à carne (= Deus). Hoje, muitas seitas ensinam tal heresia, como por exemplo, o Tabernáculo da Fé, Igreja Pentecostal Unida do Brasil, Igreja Voz da Verdade, Testemunhas de Ierrochua etc.

Conclusão

Este livro é uma farsa e sua autora, Mary K. Baxter uma mentirosa e charlatã que se enriqueceu as custas de pessoas ingênuas e ignorantes biblicamente. Não há nada nas Escrituras (nem mesmo na literatura apócrifa) que apoie essa "visão" de Baxter, muito pelo contrário, pois:

1) A Bíblia não relata nenhum caso de pessoas que foram ao inferno e voltaram.

2) Ainda que alguém fosse ao inferno, não teria visto pessoas naquele lugar, pois o inferno ainda não foi inaugurado! Não confundir inferno (geena = lago de fogo e enxofre) com Hades [grego] / Sheol [hebraico] (lugar onde os ímpios estão aguardando o juízo; lugar de tormentos), que em algumas versões vem traduzido erroneamente como "inferno". Antes da ressurreição de Cristo todos que morriam iam para o Hades/Sheol [crentes e ímpios], porém lá havia uma separação [grande abismo] entre o lugar de descanso dos crentes e o lugar de tormento dos ímpios [Lc 19]. Após a Sua ressurreição, Cristo levou todos os crentes para o Céu, junto dEle, e os ímpios permaneceram no Hades/Sheol. Hoje quando um crente morre vai direto para o Céu [Paraíso], juntamente com Cristo; quando um ímpio morre, vai para o Hades/Sheol [que não é o inferno] aguardar o julgamento final.

3) O diabo não está no inferno e sim nos ares (Jo 1.7,2.2; Ef 6. 12)

4) O diabo será lançado no inferno somente após o milênio (Ap 20.10)

5) No inferno o diabo não irá brincar ou torturar ninguém, aliás, isto seria um prêmio para ele. No inferno ele também será atormentado (Ap 20.10b)

6) Quem vai inaugurar o inferno é a besta e o falso profeta(Ap 19.20)

7) Os ímpios só serão lançados no inferno após o juízo final (Ap 20.11-15)

Tudo o que precisávamos saber a respeito do inferno, Deus já revelou através da sua Palavra, a Bíblia. Não precisamos de nenhuma dona Baxter.

Amados, não creiais em todo espírito, mas provai se os espíritos são de Deus, porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo. I João 4:1

(compilado)

terça-feira, 3 de março de 2009

A origem do pensamento pentecostal a respeito do batismo com o Espírito Santo

Com base nos registros bíblicos podemos afirmar que não há dúvidas de que o batismo do Espírito Santo foi um ato unilateral, que partiu do próprio Deus, independentemente de ações e atitudes pessoais de busca por parte dos Seus servos. Não cabe, então, às pessoas ficarem a determinar datas e formas para o que  chamam batismo no Espírito Santo porque a igreja de Cristo já foi batizada, em um tempo determinado por Deus, da forma também determinada por ele. O Espírito é de Deus e a tentativa de manipulá-lo é grave ofensa ao Senhor porque é tentativa de fazer dEle servo e manifestação do não reconhecimento do seu senhorio sobre todas as coisas, utilizando um acontecimento que partiu dEle e que foi operado por Ele como desculpa para uma tentativa de exercício de senhorio sobre quem é Senhor de todas as coisas.

Agora chegamos a um ponto crucial para o nosso entendimento: Se o batismo no Espírito Santo foi um fato único na história do Cristianismo; se foi um ato de Deus para a Igreja de Cristo como instituição, abrangendo o seu efeito a todas as igrejas de Cristo em todos os lugares e em todos os tempos; se o que vemos e ouvimos agora a respeito do assunto não tem qualquer base bíblica nem fez parte da história do cristianismo, de onde vem o costume de se procurar com ardor um fenômeno que é chamado de “batismo no Espírito Santo”, ou “batismo com o Espírito Santo”?

Há uma origem para tudo isso e não é divina. Olhando para o fundo histórico do movimento pentecostal observamos que é uma origem em comportamentos e pensamentos humanos. Ao que tudo indica, o metodismo de John Wesley (1703-91), vigário anglicano que ingressou em uma seita fundada por seu irmão Charles e que ficou conhecida em Oxford, Inglaterra, como “Associação dos Metodistas”, é o ancestral do pentecostalismo que se instalou entre igrejas norte-americanas no final do século XIX e início do século XX. Frederick Dale Bruner em sua obra Theology of the Holy Spirit - The Pentecostal Experience and the New Testament Witness, editada originalmente por William B. Eerdmans Publishing Company Grand Rapids, Michigan, U.S.A., 1970, traduzida para o português por Gordon Chown e editada em português sob o título Teologia do Espírito Santo, editada pela Sociedade Religiosa Edições Vida Nova, São Paulo, 1986, 2ª edição, comenta:

“Do ponto de vista da história da doutrina, parece que a partir da busca metodista ‘holiness’ por uma experiência instantânea de santificação, ou uma ‘segunda obra da graça’ depois da justificação, surgiu da centralização da aspiração do pentecostalismo no batismo no Espírito Santo, instantaneamente experimentado, subseqüente à conversão.” (p. 29)

John Wesley cria e ensinava que a remissão dos pecados e o recebimento de um coração novo eram duas realidades distintas em momentos diferentes na vida do cristão. Cria que o coração novo só era recebido em um momento de santificação através de uma experiência instantânea sensível (Wesley, A Plain  Account of Christian Perfection, Londres, The Epworth Press, 1952, p. 24), mas não chamava esta experiência de “batismo no Espírito Santo”. No entanto, o movimento pentecostal parece ter absorvido a idéia da experiência instantânea após a justificação e a substituiu da santificação para o que passaram a chamar de “batismo no Espírito Santo”.

O primeiro a chamar a experiência ensinada por John Wesley como santificação de “batismo no Espírito Santo” foi Charles Finney (1792-1876), reavivalista norte-americano de grande influência, autor de uma obra de Teologia Sistemática de grande utilização entre os pentecostais norte-americanos, em que ensinava uma experiência subseqüente à conversão que chamava de batismo no Espírito Santo. Frederick Dale Bruner faz citação em sua obra de um trecho das Memórias escritas por Finney, em que faz referência ao que considerava uma insuficiência do seu mentor presbiteriano, Rev. Gale:

“Havia outro defeito na educação administrada pelo irmão Gale, que considerei fundamental. Se já fora convertido, deixara de receber aquela unção divina do Espírito Santo que o tornaria um elemento poderoso no púlpito e na sociedade, para a conversão de almas. Não tinha chegado a receber o batismo no Espírito Santo, que é indispensável para o sucesso no ministério...”

Finney desenvolveu métodos deliberados e emotivos para levar os homens a uma crise espiritual e os justificava com pensamento seu, pessoal: “Deus tem considerado necessário fazer uso da emotividade que existe na raça humana para produzir excitações poderosas entre as pessoas antes de poder levá-las a obedecer”. Porém nem ele, nem John Wesley fizeram qualquer referência a uma experiência de glossolalia, de fala de línguas estranhas como sendo a marca do batismo no Espírito Santo. O fenômeno só ocorreu com notabilidade destacada, na cidade de Los Angeles, Califórnia, no ano de 1906,  em 9 de abril, em uma reunião na casa de alguns batistas que convidaram um pregador de Santidade chamado W. J. Seymour, que ali ensinou que a manifestação do batismo no Espírito Santo era falar línguas estranhas e provocou manifestações, conforme registra Frank Bartleman, um participante nos eventos. Ali estava o marco do início da crença que uma pessoa precisava passar por duas etapas de salvação: a primeira a justificação através da entrega da vida a Jesus Cristo como Senhor e a segunda através do batismo no Espírito Santo que seria marcado pela experiência mística da fala em línguas estranhas.

Para este autor ali começou um grande movimento herético, de pregação de um outro evangelho que não o de Jesus Cristo, que se espalhou pelo mundo e que tem prejudicado grandemente a pregação do evangelho autêntico, da salvação por um ato único de entrega de vida a Jesus Cristo como único Salvador, pois atribuiu valor salvífico também a um fenômeno que não encontra respaldo na Bíblia, que foi criado e desenvolvido por homens que desprezaram os ensinamentos bíblicos, e que depende de esforços humanos para serem supostamente alcançados. Uma crença herética, que leva igrejas à apostasia e que faz com que pessoas que um dia creram em Jesus como Salvador e Senhor de suas vidas, fiquem a buscar uma manifestação extática em suas vidas, culminada em um fenômeno de glossolalia para terem a certeza de que foram “batizadas com o Espírito Santo”, e assim possam sentir alguma tranqüilidade espiritual, ou uma edificação espiritual, ou uma convicção de que são salvos. Mas, salvos por quem? Pelo Espírito Santo? Ou por Jesus Cristo a quem supostamente entregaram suas vidas?

Creio que crentes sinceros devem revisar seus procedimentos, reconhecer que não há base bíblica, não há base nos ensinamentos de Jesus para tal prática religiosa e devem com gratidão pela salvação recebida somente pela graça de Jesus Cristo, entregarem-se à obra de testemunho do nome de, mostrando ao mundo que Ele pode salvar e regenerar a todos quantos crerem no Seu nome com o Filho de Deus, que veio buscar e salvar o homem condenado pelo pecado.

(Extraído do Livro O Espírito Santo à Luz das Escrituras, de autoria do Pastor Dinelcir de Souza Lima, Editora Batista Brasileira, Rio de Janeiro, 2008, páginas 39-41)

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